Diálogo
23:03 postado por Thiago Terenzi
- Mãe, porque viver dói tanto?
- Onde é que está doendo?
- Em algum lugar acima do peito, abaixo do pescoço. Perto de onde fica a alegria.
- Que dor é essa, filho? desde quando você dói?
- Eu me dôo todo, sempre, mas é que dói baixinho. Faz silêncio que dá pra ouvir.
- Ninguém ouve a dor, filho. Se não quer ir pra aula, não vá. Não é certo inventar doença.
- E como faz pra desinventar? é que dói e eu não quero mais doença.
- Onde é essa dor?
- É lá dentro. Perto de onde fica a alegria. E aí eu não consigo ser alegre. Como faz pra ser alegre?
- Você é feliz, filho. Você é jovem, é criança, então é feliz.
- Mas, mãe...
- Quê?
- Felicidade dói?
- Escuta: não há dor nenhuma. Você é novo. Gente nova não é triste. Então não há motivos pra dor no peito.
- Não é no peito...
- Não importa. Não existe esse lugar que você falou. Alegria não tem lugar pra ser.
- Então a gente é alegre onde?
- Como onde?
- Em que lugar do corpo a gente é alegre? Acho que me dói é nesse lugar.
- Quer saber: quer remédio pra passar a dor? Tem Novalgina na cozinha.
- Mas e se a Novalgina me fizer também passar a alegria?
- Novalgina é pra dor, filho. Não é pra alegria.
- Mas é que minha alegria é tão miúda... que às vezes parece doer.
- Papai e mamãe te amam, filho. Então você é bem alegre, é feliz. Quem tem amor de pai e mãe é feliz. Simples.
- É que eu achava que felicidade era coisa grande. É que todo mundo quer, então eu pensava que era maior...
- Pois então é bom você deixar de querer demais do mundo. As coisas nunca são como parecem ser.
- Mas é que isso de ter de ser feliz me traz medo. E se eu nasci errado? acho que nasci faltando a felicidade. Por isso dói.
- Escuta pela última vez: você nasceu perfeito. O médico falou. Ele sabe das coisas.
- E essa dor fininha que parece não ter fim?
- Criança não tem dor fininha perto do peito! Isso é coisa de velho com veia entupida.
- Então acho que eu não sou mais criança.
- É sim! Olha, felicidade é isso que você está vendo. Não existem contos de fada. Não espere tanto do mundo. A gente tem que se conformar com um monte de coisas. Você é normal. O mundo é assim mesmo e a felicidade é isso aí. Nada é o que desejamos ser.
- Mas é que ser feliz me dói tanto...
7 de março de 2010 às 01:53
essa criança tem depressao, e não precisa de novalgina, precisa de outro, chama prozac.
7 de março de 2010 às 03:19
Essa criança precisa de mais carinho e respeito por parte dos pais. A mãe dele é ridícula.
11 de março de 2010 às 16:30
Oi, Terenzi. Volví aqui.
Intenso o escrito, rapaz.
Clarice num dos seus contos escreveu:
"Eu que sabia que também se morre em criança sem ninguém perceber"
...
Ótima 5a, rapaz.
Paz.
16 de março de 2010 às 22:16
posta sua musica aki... sei la, só uma ideia...
4 de abril de 2010 às 05:59
agora nós sabemos o pq, do nosso viver, dó tanto. acho que vc sabe tbm. saudade.
8 de abril de 2010 às 23:00
é sempre uma delícia ler você. Que diálogo mais sincero não? Tão infantil e tão adulto... Nossas dúvidas são nessa linha mas sem tamanha sinceridade.
8 de abril de 2010 às 23:02
Thi
só uma coisa... tirei do ar o blog "A Puta" o link que colocou ai (muito obrigada aliás) não leva mais a lugar algum... Continuo em crise com as letras.
bjim
19 de abril de 2010 às 03:46
Nem sei se tem um pouco a ver, mas pensei numa música do powell com o moraes, que fala: "o amor só é bom se doer". me veio à cabeça, só isso. beijo, menino.
23 de abril de 2010 às 10:18
Oi, Thiago! Passando para desejar um bom final de semana. No aguardo de nova postagem por aqui.
Paz.
27 de abril de 2010 às 17:22
por que adulto nunca dá ouvidos pras crianças?
6 de setembro de 2010 às 00:30
De tirar o folego de tão simples.