O Cigarro
16:09 postado por Thiago Terenzi
E ela não tragou o cigarro pela última vez. Trêmula – angustiada entre a vontade do sim e a certeza do não –, apenas fitou-o sobre o cinzeiro até que o cigarro, metamorfo, virasse cinzas. Não tragá-lo foi uma decisão difícil: não pelo prazer do vício, mas pelo significado daquele ato – não senti-lo pela última vez era abandonar o que lhe fora essencial. Era algo grande. Ela nem ao menos sabia – tu não sabes, acredite – mas era grande.
E trêmula – não pela carência do vício, mas pela força do ato –, cerrou os olhos num vazio necessário e fez-se forte. Ela sorriu de um sorriso doído, mas soube, sem ao menos saber como sabia, que para ter era preciso abrir mão. Tu não entendes, acredite – e nem ela espera de ti entendimento. Ela que nem ao menos se compreende. Mas aquilo era como tirar-lhe o mais essencial – o mais difícil e o mais doído: era-lhe o último trago – e ao abrir mão do mais difícil... ah, ao abrir mão ela soube que estava pronta para algo maior. Algo sem fronteiras que nem ao menos conseguia enxergar. Vês?
Ela não sabia, mas ao fitar o cigarro sobre o cinzeiro, tornara-se infinitamente maior que si mesma. Tornara-se pronta. Pronta para abrir mão. Pronta para desapegar-se do não-essencial. E ela, trêmula e frágil com seus olhos inseguros – ela negava, naquele momento, os desejos mais urgentes. Tu não entendes como, mas mesmo com seu corpo encolhido como quem busca proteção – mesmo sozinha procurando afago – ah, ela era indizivelmente maior que todos nós. Para ela, bastava-lhe o pouco que tinha e que lhe era verdadeiro. Bastava-lhe. Entendes? Para ela, grande mulher, não havia mais ‘porém’ ou ‘mas’. Era-lhe de direito o ponto final.
E a fumaça do último cigarro ainda se moldava ao ambiente quando, num súbito espasmo de alma, ela – pequena e frágil e doída –, ela gritou. E gritou-se de um grito preso que enfim ganhava liberdade. Um grito falho de quem há tempos não utilizava-se das pregas vocais. Mas era um grito sincero – tímido e medroso, mas sincero. Porque mesmo insegura e abraçada a si mesma em posição fetal – mesmo querendo-lhe proteção, ela era grande. E então o grito era-lhe seu por direito. E gritou. De olhos fechados. Tu não entendes, mas ela gritou:
E no instante seguinte, arrependida do grito, suplicou:
– Sejamos maiores. Por favor.
E, então, adormeceu.
4 de abril de 2009 às 01:57
Thiago, obrigado pelas letras de apreço em seu último comentário no Debaixo das Asas.
Mas, quero volvê-las a você.
Rapaz, como é bom ler seus textos. Tenho uma admiração muito minha por seus escritos e todas as vezes que venho até eles, sinto-me literalmente agraciado em escrita.
Terenzi, eu não fumo, mas tenho outros vícios. Vícios meus, que já nasci possuindo-os. Vícios que me faz 'sorrir de forma doída'. Mas é meu sorriso.
Li seu texto, O Cigarro, achei-me nele. Sempre me encontro por aqui. Após a leitura, parei em mim, abri o 'word' e comecei a digitar - foi quando escrevi 'ERA DELE' - Texto que acabo de postar no meu recanto.
Há gritos nele. Há 'cigarros' nele. Há parte de mim sem mim, há e não há. Como você disse, existe a subjetividade: a leitura que não se expira.
Poderia tecer e des-tecer vários comentários aqui, mas sinto que as palavras são findas externamente, mas intimamente, continuo - retorno a dizer - agraciado, pelas suas letras.
Tenha um ótimo final de semana, amigo.
Ah... Até o cigarro de Clarice possuía outra conotação na boca dela. ^^
7 de abril de 2009 às 04:29
Sejamos maiores sempre!
Adoro o seu blog! Me traz uma paz! =)
Tu não tem noção do quanto é bom ler quem realmente sabe escrever.
Um beijo!
10 de abril de 2009 às 16:10
Muito bom o blog cara, adorei. Obrigado pelo elogio que fez ao meu blog. Textos muito bem escritos, layout bonito. Parabéns, continue assim.
10 de abril de 2009 às 21:32
hm mto bom!
13 de abril de 2009 às 17:44
Olá, Thiago !
Confesso, que estou maravilhada por seu espaço, não li os textos como deveria, mas voltarei para absorver cada letra aqui ecoada, e no fazer comentários em grande estilo.
Beijos milll...
Priscila Cáliga
23 de abril de 2009 às 11:23
Vc tem uns comentários tão... Cultos! shuahsuahsuahsuahs
O meu será digno de uma estudante de letras que se reserva o direito de ser simples sem perder a graça: Vc é demais, como escritor, é claro! Queria lembrar mais vezes do seu blog, rara leitura de qualidade entre tudo que venho tendo contato.
7 de maio de 2009 às 22:29
deu vontade de um trago, ele me pareceu bem mais confortante do que já é.
14 de maio de 2009 às 14:58
Belíssima história, gostei da forma que você escreve.
Volto aqui brevemente pra ler-te um pouco mais.
Um Abraço!
14 de maio de 2009 às 17:49
Uau!
Impressionada aqui como terminamos o texto com a mesma idéia.
Nem deveria me impressionar tanto. Bobagem.