Textos do passado: "Espelho Seu"
02:41 postado por Thiago Terenzi
Munido da desculpa de reviver o passado - mas na verdade apenas maquiando a falta de inspiração (ou o medo de tê-la), resolvi buscar pelo computador coisas que escrevi durante os anos.
Acho que farei uma série rápida de seguidos posts sobre textos escritos há tempos. Este, por exemplo, cujo nome é "Espelho seu" e a foto ao lado curiosamente estava anexada junto ao seu título, foi escrito em 11 de fevereiro de 2004 (ou ao menos postada nesta data em um fotolog que nem tenho mais.
A qualidade deste texto - e provavelmente a dos que o seguirão - são questionáveis. Mas é curioso recordar o que se escreve aos 14 anos.
ESPELHO SEU
Da janela escura do meu quarto vejo o Sol nascer. Ele não é mais como antes: está menor, menos iluminado. Definitivamente não carrega mais, em seu intenso vermelho, a mesma poesia que um dia carregou.
Da janela escura do meu quarto observo o mundo e suas malditas belezas. Ouro dos tolos que um dia acreditei que poderia mudar. Mudar o mundo, mudar a vida declarando guerra aos inimigos sem saber ao certo onde quer chegar.
Da janela escura do meu quarto vejo o eterno espelho que volta no tempo teimoso em repetir o retrocesso romantismo dos heróis de toda uma geração.
Da janela escura do meu quarto vejo os rebeldes cantarem. Líderes de uma ideologia romântica e de um discurso nato. Pobres homens que escondem de suas próprias mentes o pensamento soturno da fantasia do poder.
Da janela escura do meu quarto vejo o Sol vencer as trevas num teatro impossível, ao menos possível aos anjos que teimam em exacerbar com tamanha facilidade o impossível aos pobres mortais que somos.
Da janela escura do meu quarto compreendo a razão dos suicidas ao perderem a razão: anti-depressivos incapazes de drogar os sábios que os tomam à beira de perder o saber viajando num mundo ilusório.
Da janela escura do meu quarto sinto o cheiro da chuva urbana trazendo tristeza ao infeliz mundo, utopicamente feliz. De sorrisos plastificados; de bocas secas espelhadas em almas igualmente vazias.
Da janela escura do meu quarto enxergo-me bem em vários eus passados, da ignorância sábia de não saber o futuro.
Da janela escura do meu quarto enxergo o passado, vivo o presente e temo o futuro. Não nesta ordem e nem nestes tempos, afinal, estes se confundem na ignorância de todos os sábios.
Da janela escura do meu quarto desabo buscando o passado das ruas lembaixo ou o futuro da incerteza da queda, certo de fugir do presente.
Thiago Rezende (um eu que já não existe mais), 11/02/04
18 de julho de 2008 às 03:58
"Diriam ao ver, sem sombra de dúvidas, "só uma janela!". Só? Só? COMO ASSIM SÓ?
Jamais! Diria eu, sim, que é uma janela só. Mas só uma janela, jamais! Mas ela não é só, aliás, não costumava ser. Está só, sabe-se lá desde quando pra cá. Era a janela das visões. As boas visões, as ruins, as confortantes, as juvenis, as dilacerantes, as vazias, as repletas. Parava nela em dias bons, lembro-me. Lá pelas tantas da madrugada, era frio ou calor, não sei, e olhava por olhar."
Fiquei pasma ao ler. Primeiro, pela qualidade e em plenos 14 anos. Segundo, eu mesma já escrevi sobre a minha janela do quarto: http://hookedonnothing.blogspot.com/2008/03/visions-come-in-sick-room-bed.html
Sinta-se à vontade para me fuçar. Eu já sou sua leitora ;)
18 de julho de 2008 às 03:59
o link não saiu completo, mas foi num texto meu chamado "visions come in a sick room bed"
beijo, colega.
23 de julho de 2008 às 11:30
Bom dia, Thiago.
É bom recordar. Há uam frase que diz: "recordar é viver". Talvez esteja certa, maa, há lembranças que matam ...
...
A janela do meu quarto é pequena, mas minha visão sempre foi além dela. Via o futuro coberto por lençóis, recordava o passado entrelaçado aos travesseiro e enxergava o presente tão longe de mim. Tão distante... A janela continua pequena, a visão não mudou de tamanho, mas mudei o foco. Olho para outras fontes hoje.
Novos horizontes.