A Lágrima - Thiago Terenzi

02:27 postado por Thiago Terenzi





A LÁGRIMA – Thiago Terenzi

Escondo o que há de melhor em mim. Perdoe-me, mas sou limitado demais para mostrar-me por inteiro. Preciso do olhar blasé e do sorriso plastificado. Preciso mostrar-me menor, pois tenho medo de existir por completo – perdoe-me. Escondo o que tenho de mais humano em mim.
Pois livrei-me das crenças e das pasárgadas, mas restou-me a humanidade – nua em pêlo. Restou-me aquilo que me torna existível (e ao mesmo tempo torna o existir insuportável), mas tenho medo de mostrar-te. Tenho medo de gritar a plenos pulmões um grito sem significado e odeio este medo. Tira-me o medo e traz-me a coragem, pois preciso transcender. Faz-me ir além, por favor. Apego-me a ti, pois és o que resta. Sou pequeno e limitado demais. O que escrevo é muito mais do que sou – odeio ser algo além do que posso ser. Tenho medo e quero dormir, apenas, mas as palavras me saem pelos olhos e tenho que escreve-las – não se engane: eu não sou tão grande quanto as letras tortas que escrevo. Sou um embrião com frio a procura do útero.

Mas há tanta vida em algum lugar de mim que tenho medo de encontrar-me. Não sei se quero tornar-me o que sou de melhor. Não estou preparado. Sou pequeno demais para arriscar-me em vôos altos. Abraça-me e diga que está tudo bem. Mostra-me o que perdi aventurando-me no que não sou capaz. Traga de volta minhas pasárgadas, pois nunca estive preparado para perde-las. Não quero ir além. Viver dói.

Quero gritar. Amo a música, pois esta me dá desculpas para tal. Viu? sou tão pequeno que preciso de desculpas. Sou o menor entre os menores seres – justamente por ter algo de grandioso e não saber usar. Sou pequeno por ter, em meu peito, uma luz tão forte que trás medo. Não critiques-me, tu, por favor – és o que resta, traz-me conforto. Diga-me, tu, mentiras, pois tenho medo do que é verdadeiro.

Tenho medo de ser-me eu – apenas quem olhou meus olhos e capturou o instante nunca dito sabe do que digo. Mas não queira ser-me. Basta dizer-me o que peço a ti. És o que me resta e tenho medo de perder-te. Preciso que digas palavras mortas para da morte tirar meu existir. És necessário a mim... Não deixe de ler-me. Por favor... não sou tão nobre escritor, daqueles que escreve para satisfazer-se apenas. Escrevo, eu, pois preciso de ti. Mesmo que nunca saiba, eu, quem tu és. Preciso que me leias e traga-me o conforto materno enquanto busco em mim algo que faça sentido.

Mas não me critique. Estou fragilizado demais para críticas. Sei que és maior do que eu, mas diminua-te, por Deus, ao meu nível e diga os clichês necessários que imploro. Faz-me ser raso, pois a profundidade mata aos poucos – e quero morrer de morte rápida. Aos 27.

Queria dizer-te sem rodeios o que preciso que saibas. Mas sou pequeno demais para entender-me. Sou uma farsa e para fazer o que me é necessário, escondo-me por entre metáforas dostoiéviskianas, filosofias nietzscheanas e análises freudianas. Mas escrevo o que há de mais sincero em mim – escrevo à flor da pele e de olhos fechados.

Eis o que tenho de melhor:

5 pessoas disseram. E você?:

  1. André Mans disse...

    e isso já é uma baita abertura de permissão

  2. Thiago Cavalcante disse...
    Este comentário foi removido pelo autor.
  3. Thiago Cavalcante disse...

    Boa noite, Thiago.

    Desculpe a demora em retornar ao seu blog. A pane do Speedy aqui em SAMPA "quebrou minha rotina".

    Escrevi algo semelhante, porém de uma forma diferente em meu blog. É interesante como me identifico nos seus posts. E isso me impele a sempre aguardar um novo texto seu.

    Não para decifrá-lo, mas para me encontrar neles.


    Sempre busquei desculpas e formas de me auto-esconder. Meu ser está reprimido num mundo irreal. Mas não sei se quero torná-lo real. Não agora.

    *"O que sinto é singular. Minha singularidade íntima.
    Mas escrevo. Estou minutando. Não consigo escrever tudo.
    Sinto algo preso em mim. Algo que me faz parar."

    Tenha uma ótima semana.
    Shalom!


    *O Nome da Rua - Thiago Yaagob

  4. Anônimo disse...

    parece que jalou direto à mim.
    será que mais alguém se sentiu assim?

  5. Ligia Carrasco disse...

    E o que tens de melhor é o melhor dos melhores (na minha opinião, claro).

    Desculpa a xeretisse, gostei das palavras tuas.

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