Amo - Thiago Terenzi

21:31 postado por Thiago Terenzi


Amo. Não sei ao certo o que ou quem, mas disso tenho certeza: amo. Amo, talvez, o segundo que passou, o sorriso que se foi, a dor que nunca mais senti. Amo aquela rua escura entre as tantas da Savassi, aquela que de tão deserta sentia-me completo - amo o que ela foi, não o que ela é. Prefiro o pretérito ao presente. Prefiro a lembrança, por, simplesmente, poder lembrar: é bom moldar o mundo à minha maneira.
Algo, dizem, temos que amar – então eu amo! Amo por ter que amar, talvez. Para tudo, há motivos. Criei os meus. O amor é o motivo do próprio amor. Mas ainda falta o que amar, então criei: amo o próprio amor. Mas o que ama o amor tem, também, que algo amar. Então criei: amo o mundo, mas não este em que vivemos – não sou insensível ao ponto. Amo o mundo que habita em minha mente – o mundo só meu.
É por isso que amo o pretérito. Todo pretérito é mais que perfeito, porque o pretérito é só meu. E tudo o que é meu é perfeito, mas só o que é meu de verdade. - O abismo negro da minha própria mente, este não é meu. No mais puro cinismo, desfiz-me dele como uma mãe que entrega seu filho à própria sorte.
Sem querer me perder por devaneios, volto ao ponto em que parei: amo o passado simplesmente por ser passado. O imperfeito que passou se transforma, como mágica, em perfeição. – Porque, sim, não tenho escrúpulos em distorcer a realidade. O passado é meu, e do que é meu, faço o que quiser. Faço dele perfeição, e da perfeição, o meu abrigo.
Sim, meu olhar blasé disfarça, mas os cegos apressados que passam, agora, pela rua, já perceberam: eu também preciso de abrigo.
Mas meu abrigo é diferente. Sou eu mesmo. É o passado que se transforma em perfeição que se transforma em amor. É o amor que sinto pelo mundo que eu mesmo criei que me faz de abrigo. Abrigo-me no mundo da minha mente, pois nele dito as regras. E como já disse, não sou dotado de escrúpulos, sou um ditador totalitário do meu próprio mundo: as regras são feitas para me proteger. Somente a mim.
Acho que o amor, então, tem por objetivo a proteção. Amamos para não morrer do mundo, talvez. Porque o mundo é veneno e veneno mata. E o amor é a única defesa que temos contra a verdade, que é fria como o mundo.
Não entenda o que digo como uma tentativa de enobrecer tal sentimento – pelo contrário, o amor não é nada nobre! É a mais irrefutável prova do individualismo humano. Sim, porque amamos para buscar a proteção e não para dar a proteção. Damos o amor para recebê-lo, e apenas para isso. Um filósofo alemão, uma vez, disse que amamos não uma pessoa, mas sim a sensação que o amor causa em nós mesmos. Acho, então, que acredito nele.
Mas não quero, também, menosprezar o amor, visto que ele é o antídoto capaz de trazer a vida ao homem. Reconheço sua vital importância. Na verdade, não sei o que quero fazer, enfim. Pouco importa o porque de escrever.
Escrevo, talvez, porque a escrita é o portal que transita entre os dois mundos: o meu e o real. Apenas por isso.

2 pessoas disseram. E você?:

  1. Jefferson disse...

    finalmente um local adequado pra toda sua expressão.

    te cuida thiaguinho
    :*

  2. Thiago Cavalcante disse...

    Oi Thiago.
    Boa tarde.
    Encontrei teu blog e resolvi parar para ler esse texto.
    Curti muito cara. (Até imprimi para ler com mais atenção).

    Parabéns .. gostei da subjetividade moldada no decorrer do texto.


    Forte abraço.

    (Posso add aos meus links???)

Related Posts with Thumbnails