Um porto

23:42 postado por Thiago Terenzi

Era assim: algumas cervejas no bar, duas ou três tequilas e um daqueles inferninhos imundos da cidade – um daqueles onde se encontram os que restaram. E ele restara.

Os inferninhos eram todos iguais: uma porta apagada num canto deserto, dois lances de degraus melados num misto de cerveja e vômito, um balcão com duas ou três cervejas importadas e um banheiro onde se espremem os que o querem para sexo, mijo ou cheirar pó. E ele nem queria o banheiro.

Na pista – de onde estava conseguia enxergar com alguma dificuldade –, rostos sem identidade suados pela batida eletrônica ritmada comandada por um DJ que nem ao menos sabia tocar – mas tentava. Era ali, aliás, a noite das tentativas. Os corpos na pista se tentavam em busca um do outro para encarar a madrugada sempre fria. Os olhos tentavam alguma luz em meio à solidez rude dos cantos escuros. E ele tentava alguma coisa que ainda não sabia. E em busca dessa tentativa cega, estava ali: cerveja importada em mãos, sorriso vazio disfarçando a solidão e corpo se movimentando errante ao ritmo do som.

Qual o seu nome? perguntou cego a sabe-se-lá-quem e recebeu como resposta talvez um nome ou um isso importa?, nem se lembra mais. Depois ouviu-se frases soltas como gostei de você ou você trabalha ou só estuda? ou essa música é uma das minhas preferidas. Depois veio o beijo e permitiu-se então – por alguns instantes – terem-se um ao outro. Depois veio algo como sou de peixes e você? você tem um rosto lindo moro sozinho quer ir na minha casa escutar música e beber vinho? tenho alguns discos de rock e pizza na geladeira.

Depois treparam de mãos dadas com os dedos entrelaçados como fazem os casais apaixonados aos cinco meses de namoro e se abraçaram como se fossem necessários um ao outro. Fumaram um ou dois Marlboros vermelhos ainda nus e melados exaustos naquela cama de solteiro e se disseram até logo ou até nunca, difícil saber.

4 pessoas disseram. E você?:

  1. Rafael Sandim disse...

    O sexo consola quem não é atingido pelo amor. O problema é quando quem tem a capacidade de amar não encontrar o amor, só o momentâneo. Gostei bastante da sinceridade do texto. Adoro tudo que o sr. escreve.

  2. Thiago Cavalcante disse...

    Oi, Thiago. Depois voltarei ao teu blog. Passo rápido por aqui só para registrar um "OI".

    Agasalhe-se: com paz, querido.

  3. Guilherme Heinzelmann Benta disse...

    Obrigado pela visita, será sempre muito bem vindo ^^


    a propósito, roubei a sua idéia do LinkWithin espero que não se importe :P

  4. Aline disse...

    Muito bom!

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