Quente e Profano - por Thiago Terenzi

16:29 postado por Thiago Terenzi

Pois temos a vida – mas vivi tão pouco o que se pode chamar de vida que nem sei ao certo se vivi ou morri em sonho. É que há tempos não vivia a vida que é de se viver. E estou tão necessitado que peguei lápis e papel e escrevo enquanto o sol se brota. É que viver é tão intenso que me faz escrever.
Fechei os olhos e respirei a vida dos mortais – e, há tempos, vivia eu uma vida que é além-humana. Vivia em completa plenitude estática, mas hoje, enfim, respirei o ar que é de se respirar e senti dor. E como é bom senti-la. Como é bom ser humano. Quero é o dinâmico.
Foi tão bonito e tão doloroso... sei que não entendes, mas nem é necessário. É que às vezes a vida de mentira é mais real que a mentira em carne e osso. Viver do que é vivível nos faz melhor – e eu quero tanto que chega a doer. Quero o que me trás vida – vida esta que é de eufemismos.
E que volte o cheiro de cigarro e o corpo em branco e preto; que volte a insegurança e a luz que cega a visão – que volte o mundo, pois preciso de fraquezas. Ser perfeito consome mais do que posso suportar – logo eu que mal suporto a dor.
É que perfeição remete à limites – a perfeição é pequena. Não se pode ir além, pois chegaríamos, então, na imperfeição. E não quero os limites do que é perfeito. Não quero a mente limitada dos que fazem juízo de valor. Se pudesse, acho, seria amoral – a palavra é tão bonita, lembra amor. Quero é seguir uma ética interna que nem consigo racionalizar – e não racionaliza-la é o que a torna especial.
E vivi, como dizia, da vida não-racional que sempre busquei e tive medo. E pude voltar a escrever. É uma espécie de medo-desejo que é combustível da alma. É uma humanidade que falta à luz dos olhos – quero, então, a luz dos olhos.
Mas, por favor, traga-me os olhos aos poucos – é que estou tão acostumado com a escuridão, que luz me cega.
Torno-me, então, humano ao avesso – mas humano, por fim. Cego, mas por escolha para poder sentir-me mais. Torno-me, pois, um eu mesmo que nunca fui. E temo ser este o que sou de verdade.
É que é da dor que me faço o que é existível. Renuncio à perfeição para ser-me eu mesmo. Sou é o vidro embaçado que não vê o exterior – quente e profano. Quero, então, o que há de mais quente e profano no corpo: a carne – pois alma já não me alimenta mais.
Bebi do além-mundo e voltei. A perfeição me recalca – não a quero mais.

3 pessoas disseram. E você?:

  1. Thiago Cavalcante disse...

    Oi, Thiago.
    Faz um tempo também que n~~ao atualizo meu blog.

    Bom, estou atrasado agora. Imprimirei seu texto "Quente e Profona" para ler no ônibus.

    Depois volto aqui para comentá-lo.

    Um abraço.

  2. Thiago Cavalcante disse...
    Este comentário foi removido pelo autor.
  3. Thiago Cavalcante disse...

    Bom dia, Thiago!
    É com alegria que adentrei ao teu espaço web e pude ver outro texto teu. (Já estou imprimindo-o para ler no horário de almoço).
    Quanto ao texto ‘Quente e Profano’. Li. Reli. Reeli.
    Achei diferente dos teus textos anteriores, mas com uma semelhança tua. Algo sobrecomum, talvez.
    Mas para escrever : 'Renuncio à perfeição para ser-me eu mesmo'; tem que estar numa esfera superior aos dos normais.
    Tenho uma admiração tamanha por seus textos, essa forma sutil de expressão que você consegue transmitir sabiamente.
    Só seremos nós quando focalizarmos o eu primeiro. O valor que ansiamos deve ser buscado e refletido primeiramente no que é “quente e profano” dentro do âmago.
    É sempre bom vir até aqui. Seu blog me faz pensar com uma reflexão mais ampla. Tenho que ler mais de uma vez seus textos. E mesmo assim, minha interpretação é minha. Talvez não seja o que você tentou dizer, e é exatamente isso que eu gosto nos teus textos: A livre interpretação.
    Um abraço, rapaz.

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