Psicografia - Thiago Terenzi
03:13 postado por Thiago Terenzi
E as palavras que são ditas. E os olhos que se fecham. E o instante que se edifica. E o corpo que se emudece. Tudo
E escrevo para entender o que há lá dentro. Frases soltas, sem sentido – não é mesmo para ter. A racionalidade me limita – logo eu que já sou tão limitado. Quero ir de olhos fechados, ouvir as teclas traduzirem o que há de escuro no mais escuro de mim. Escrevo para ser-me. Por necessidade, apenas. Não me leia – é pessoal. Não me entendo e não quero que entendam-me antes de mim.
Está tudo dito – tudo o que precisava ser. Mas ainda não me compreendo. Decifro-me e escrevo, mas não entendo. Ao menos não no instante congelado. Traga-me, tu, papel e lápis, pois há nisso a razão do existir – não escrevo por luxo ou para mostrar-me sabedor da língua – língua esta que uso ao avesso, num português particular. Escrevo-me para existir. Para cumprir uma missão que nem sei qual é. Não há opção – existem demônios que habitam sabe-se lá onde de mim e tenho que psicografa-los. Tenho que externar o que há de exagero em mim – uma lágrima, talvez, bastaria, mas não sei se sei chorar. Escrevo.
Nasci póstumo, confesso. Mas não tenho importância para a humanidade. Nasci póstumo de mim, apenas. Não me entendo, mas há algo a ser entendido. A posteridade não me entenderá, mas um eu posterior, talvez. Apego-me a esta esperança. E apego-me ao lápis já sem ponta (não acabe, por favor, és o que resta).
Há a música, também. Mas o que está para ser dito não se molda em melodias – há algo limitante em cada uma delas. Resta-me a prosa – mas as palavras são poucas e não há signos suficientes para traduzir os olhos que se fecham.
Escrevo em palavras simples, pois é tudo o que tenho. Mas há algo além delas. Olhe além do inteligível. Verás – prometo. Há um sopro da verdade no além-mar. Basta forçar a visão. Estou cego demais para enxergar além. Gasto o fôlego que resta desenhando letras – mas não entendo-as.
Há um sorriso. Lábios finos. Cheiro da madrugada. Corpo cheirando a cigarro. Rostos nus. Abraço. – Mas nada disso importa! Descrevo o que há no mundo externo quando busco fazer sentido. Nada disso precisa ser dito. Não há verdade externa – e eu busco alguma verdade para apoiar o corpo cansado. Estás vendo? Não buscarei mais sentido. Não serei mais explícito, pois estarei mentindo. E, por Deus, ao menos agora em meu momento mais necessário – juro que não quero mentir. Não a você – és importante.
Entendo agora o desespero e amor de Clarice por um leitor que nem conhecia. Juro – acredite em mim: este amor existe. Necessito, assim como ela, de você aqui, de mãos dadas. Nunca quis copia-la, mas juro que preciso de ti. Não é loucura – é que decifrar-me trás medo. E a lógica se perde e, então, preciso de ti. Preciso do lápis e do papel e da música e da literatura. Mas preciso de ti.
É que buscar o entendimento verdadeiro requer coragem. É preciso desapego. Não sei se estou preparado, mas é inevitável. Talvez sintas frio como eu. É possível que entendas o que não entendo – sempre fui arrogante demais para confessar-te minhas limitações. Mas tenho.
Poderia, eu, confessar-te em uma linha o que queres ouvir. Mas seria simplista demais. Guarde, por mim, o que há nas entrelinhas, mas não me revele. Há, entre o id, o ego e o superego, coisas que não me quero entender.
26 de junho de 2008 às 13:58
Boa tarde, Thiago!
Estou sem palavras ante a vivacidade desse texto.
Estava tentando externar algo semelhante em um escrito meu, todavia, suas palavras já exteriorizaram de uma forma tão abrangente e peculiar.
Sinto e re-sinto algo meu.
Busco algo que excede o entendimento. Ainda não entendo.
Mais que o saber e entender, “é” mais, bem mais – é auto-entender.
...
Gostaria de mostrar esse texto pro pessoal da facu assim que eu retornar das férias, mas gostaria da sua autorização.
...
Um ótimo final de semana pra ti. Shalom!
29 de junho de 2008 às 00:57
Bom início de dia, "chará"!
Escrever é um dom que eu tento "comprar". Não com moeda mas com a alma.
Tenho oferecido meus sentimentos á escrita, e ela me devolve alguns textos; textos objetivos pra alguns que lêem (em especial minha ex-namorada - que ela não leia esse post) rs. Mas bem subjetivo para outros.
"Escrevo-me para ser-me... não escrevo por luxo ou para mostrar-me sabedor da língua... Escrevo-me para existir".
Vou te confessare algo, não entenda como bajulação; mas fazia tempos que eu não lia um texto tão bem escrito como este.
Estou feliz por ter lido.
Tenho ele impresso e posto em minha cabeceira. Tenho refletido.
Irei voltar mais vezes nesse texto. Há muito a ser explorado.
Tenha um ótimo Domingo.
Shalom!
29 de junho de 2008 às 01:39
Olá, Thiago! Venho parabenizá-lo pela sutileza e beleza com que escrevestes esse texto! Tomei conhecimento do seu texto pelo meu amigo e seu xará Thiago Cavalcante. Externar os próprios sentimentos à outrem é difícil, por isso, o poeta o faz com a ajuda do papel, do lápis e da música. Mais uma vez, parabéns pequeno grande poeta!
Forte abraço!
Mauro Teixeira da Cunha
29 de junho de 2008 às 01:42
Olá, Thiago! Venho parabenizá-lo pela sutileza e beleza com que escrevestes esse texto! Tomei conhecimento do seu texto pelo meu amigo e seu xará Thiago Cavalcante. Externar os próprios sentimentos à outrem é difícil, por isso, o poeta o faz com a ajuda do papel, do lápis e da música. Mais uma vez, parabéns pequeno grande poeta!
Forte abraço!
Mauro Teixeira da Cunha
29 de junho de 2008 às 13:09
Me indicaram seu blog (Thiago yua'agob), e li o texto Psicografia. Cara tu é mto bom e de uma entrelinhas ímpar. Parabens. Posso continuar lendo? rsrrssr....
Isaias Lucadi
4 de agosto de 2008 às 16:19
Boa tarde, Thiago!
Estou imprimindo esse texto seu e mostrarei para minha professora na faculdade. É certo que ela, assim como curtirá pakas a maneira com que você manuseia a pena.
Abraço, rapaz.
Dê notícias.
20 de novembro de 2009 às 08:46
necessario verificar:)