SOBRE O TEMPO
15:36 postado por Thiago Terenzi
E Ele, assim como Ana, prendeu o instante entre os dedos antes que ele nunca mais fosse seu – uma tentativa desesperada, confesso, de eternizar a gota viva do que restou. Com delicadeza, guardou-o como quem toca numa borboleta – frágil. A delicadeza carinhosa, porém, análoga ao amor materno, fundiu-se ao desejo bruto e desesperado de não deixar o instante fugir – esmagou-se, então, a gota da vida pelo desejo de eterniza-la.
O instante findo tornou-se lágrima não chorada.. Pobre Dele que, assim como Ana, acreditou controlar o incontrolável – e acreditar em vão faz doer. É sabido, pois, que, em vão, tenta-se agarrar o momento presente – mas o que restou do presente? Imagina-se o presente, mas o instante fora esmagado segundos atrás – o que sobrou do presente? Respondo: as sobras do que preferem, os outros, de olhos fechados, acreditar. Preferem, os outros, viver de olhos fechados, pois temem abri-lo e constatar que não existe luz. Acreditam numa luz que nunca viram – mas, por Deus, não foram os mesmos que esmagaram o instante? – não os culpo: também esmaguei, assim como Ana, o que me restou. É amor de mãe – e amor de mãe mata.
Culpo o tempo – este sim é cruel (também sou humano e tenho a suja necessidade de achar culpados). Nem mesmo as mães são cruéis: o tempo é. Ele nos rouba o instante, que é tudo o que temos. Roubar-me o essencial é imperdoável. Os outros roubam vidas, riquezas e sorrisos – mas nada disso é necessário. O instante é – tantas coisas disse, em outros momentos, serem essenciais, mas agora estou convencido de que apenas o instante há de ser. Talvez nada seja essência, como disse Nietzsche, mas ainda me convenço em não ser um completo nietzscheano – tenho um lado romântico que me deixa respirar. A essência está no instante, mas esmagaram-no ao tentar protege-lo! A essência terá sido, então, esmagada? Mas e eu, que, assim como Ana e Ele, busco há tempos o que me é essencial? – busco, na verdade, o instante que passou, apenas – não me importa mais se no instante encontra-se a essência (mudo de idéia a cada letra, mas nunca soube mesmo o que pensar).
Fato é que o instante se foi e estou sozinho. Todos os instantes se vão e nenhum me preenche – nenhum preenche Ana e nem Ele. Nos dão o instante, mas ele nunca é nosso. Aquilo que nos fazia respirar não mais o faz – descobrimos, então, a realidade: respiramos independente das coisas boas: eis o fim do romantismo.
Eis, também, o fim do sorriso. O sorriso que sorriu ficou no instante em que morreu. Tudo o que nos tornava seres completos nem mais existe. Estamos incompletos procurando algo que nos consuma. Porque o tempo, cruel, há de também nos consumir – mas isso, astuto, fará no fim. Quando não existir mais com o que nos torturar.
11 de junho de 2008 às 23:49
obrigado, seus posts sao otimos! =)
13 de junho de 2008 às 16:23
A culpa não é minha.
Talvez sua... ou dele.