As Palavras - Thiago Terenzi

12:35 postado por Thiago Terenzi

Ouve-se apenas o barulho do lápis sobre o papel. Nada mais. Talvez porque nada mais é preciso – temos o lápis sobre o papel. O som é chiado, manso, descontínuo. Decerto, nada mais é necessário.


Porque temos o papel e temos as palavras – que são momentos aspergidos do que nos restou. Que são as gotas do elixir que ainda temos. E tenho sede: bebo tudo. Tudo mesmo. Como se as palavras fossem a minha arma contra o mundo: contra eu mesmo.


Com ela, sou imperador – tirano, claro. Sou absoluto em meu poder. Onisciente. Onipotente. Ego Omnia Vincit. Com ela, torno-me o que sou no mais profano de mim. Porque a alma não está em nosso interior – está nas palavras. A alma está na alma.


Ouvi um dia, em devaneio, decerto, dizerem-me, os outros, o que amar. Acreditei – por não ter em que acreditar – e amei – por não ter o que amar. Hoje, vivido de mim, não acredito, tampouco amo. Transcendo o ter por não ter e tenho apenas o que é meu: a palavra.


O corpo envelhece, os cabelos embranquecem, nossos sonhos apodrecem, mas as palavras – essas são eternas. Nossas almas são eternas. Mesmo que a eternidade não dure mais que um beijo roubado. Porque o tempo é uma medida por demais gélida para ser capaz de medir e eternidade da palavra: Duas letras são capazes de mudar o mundo – quatro são as necessárias para parar o próprio tempo. Mais que isso e o universo se expandiria ao tamanho de um ponto final. Fim.


Voltando ao inicio, ouve-se o barulho do lápis sobre o papel. Do ranger do grafite sobre a superfície, nascem as letras, como um parto, nove meses depois da criação. Cria-se a palavra e cria-se, depois, o criador – sim, pois tudo nasceu da palavra, inclusive as letras, que antes de serem letras, eram palavras em busca de algo maior. Porque, às vezes, é preciso ser menor para crescer. E crescer exige a coragem de renegar a própria coragem. É pelo bem maior: é pelo bem da palavra.


1 pessoas disseram. E você?:

  1. Thiago Cavalcante disse...

    "Ouvi um dia, em devaneio, decerto, dizerem-me, os outros, o que amar. Acreditei – por não ter em que acreditar – e amei – por não ter o que amar. Hoje, vivido de mim, não acredito, tampouco amo. Transcendo o ter por não ter e tenho apenas o que é meu: a palavra."

    Opa. Hoje dando uma atualizada no meu blog resolvi visitar os blogs dos meus amigos, e não poderia deixar de passar por aqui.

    Esse texto me agradou e muito.
    Amar por nós mesmo que é o interessante, o resto é matéria, murcha e cai, assim como a flor. Mas o amor amado por nós, esse permanece.

    Parabéns mais uma vez pelo texto.

    Vi o Vídeo também, só que não consegui entender a letra.
    Depois se der, gostaria de ler.

    Abraço. Bom final de semana.

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