Uma estória tristíssima

17:43 postado por Thiago Terenzi


a Luan Nogueira pela ideia.


Ah, é tudo tão igual que me enjoa. Você aí com esse ar de a-vida-me-é-cruel e vou-me-jogar-da-ponte mas no fundo é tudo igual. Você de rosto inchado de tanto chorar ascendendo esse cigarro molhado de chuva, tentando fazer o fogo pegar mas no fundo é sempre assim. Você culpando deus-destino-acaso-alá-jesus ou qualquer coisa do tipo mas não há culpados não. Tira esse ar patético de Homem Mais Triste do Mundo e vive. É tudo igual. É um filme sem graça que se repete, uma tragicomédia mal feita seguindo sempre aquele mesmo roteiro cult furado de clímax e anti-clímax.

Você aí chorando entre a bebida e o cigarro trancado em casa ou bebendo sozinho em algum boteco sujo de alguma rua escura e dirigindo rápido avançando sinais e cortando carros sempre bêbado fingindo não ter nada a perder. Mas você é só mais um, boy. São todos iguais. Discursinho de quero-morrer-que-os-deuses-não-me-amam olhar acuado voz embargada. Tudo igual. E você aí dirigindo rápido e bêbado e querendo quem sabe algum desastre enfim – mas não vai acontecer nada não. As tragicomédias são todas iguais: desastre vem quando se está distraído, quando se é tudo luz. E por enquanto é só autodestruição frustrada.

Por enquanto é você aí bêbado de vodca vagabunda, barba por fazer, carreiras escondidas no banheiro do boteco e algumas trepadas sem sentido, logo você que nunca viu sentido em sexo-sem-amor. Por enquanto é você acordando sozinho no quarto, sol na cara, ressaca nos olhos e boca seca de vômito. E então lhe vem na mente aquele poema bonito, Hilda Hilst talvez – é sempre algum poeta bêbadofrustrado – e finge declamá-lo altivo na cama a um corpo sem rosto que provavelmente nunca existirá. Nunca existirá. É sempre igual.

É sempre assim: alguns meses de porres e trepadas sem razão até algum dia num boteco qualquer, cansado de procuras no escuro e de ressacas intermináveis e de corpos estranhos e de fugas eternas e de tudo aquilo que se via no espelho e que não era – até que, naquele boteco você bêbado implorando socorro em silêncio, olhos vermelhos, barba por fazer. Até que.

É sempre assim, boy. As tragicomédias se repetem como num blockbuster americano: a mocinha é salva pelo cowboy. E então você é salvo de si mesmo. Como naqueles filmes sacados e mal feitos, a garotinha vê o garotinho e de repente num close clichê: se salvam. E a garota frágil e equilibrada recebe proteção e o mocinho forte e perdido enfim se encontra. Tudo sempre igual. E de repente Um Novo Grande Amor.

E então vocês se encontram e trepam de mãos dadas e corpos colados, como era o sexo Naquela Outra Vida agora meio distante embora presente. E então de corpos colados surge um olhar de súplica, algo como me salve estou tão perdido aqui é tão frio e escuro preciso de um norte preciso ter fé. alguma fé. fé. E dramático como um melodrama almodovariano ridiculamente inverossímil porque no fim somos todos ridiculamente inverossímeis – e ridiculamente dramático você finge ter medo, finge não querer sofrer outra vez, finge não estar pronto para o Tudo Aquilo Outra Vez. Ah, boy, é tudo sempre igual. Mas você se rende, não há escolha. Quando se trepa de mãos dadas e corpos colados – ah, não há mais escolhas. E você testa aquele corpo tão diferente Daquele Outro De Tempos Atrás e então se acostuma, se ajeita, se cabe. Não há volta, boy, é sempre igual.

E você enfim se rende aos novos sabores, novos olhares, novos quereres tão diferentes Daqueles Outros De Tempos Atrás. E então você se cabe e se vive enfim de uma outra vida que não Aquela Outra agora um pouco mais distante embora ainda presente – porque as cicatrizes assim como os resquícios dos excessos sempre estarão presentes. É inevitável, boy. É tudo tão igual que me enjoa.
Related Posts with Thumbnails