NINHIL – por Thiago Terenzi
03:40 postado por Thiago Terenzi
NINHIL – por Thiago Terenzi
Algo de podre fez-se surgir – alguma verdade de que sabíamos, mas, como que para nos escondermos de nós mesmos, escondíamos do inexorável. Mas surgiu.
Justo quando caminhava, eu, em busca de um nirvana particular tão pouco budista, porém, meu, apenas. Caminhava por caminhos singelos, por rostos finos, por corpos magros de certa inocência – embora fingida -, por ventos frescos e por pensamentos simplistas. Mas surgiu, como haveria eu, há tempos, auscultado, algo de podre.
Então o dia fez-se noite e tive medo – embora nunca soube ao certo como é ter medo. As ruas tornaram-se escuras e, da Contorno, bêbado, não via muito além de imagens distorcidas da janela do meu carro. Meu carro corria, como se a velocidade fizesse tudo parecer pequeno – e, de fato, era. Tudo era fugaz na velocidade da luz – como se a proximidade da morte me fizesse vivo. O último sopro de vida, talvez. A última vontade viva que me fazia crer. O pé sobre o acelerador; a alma sobre a carne. A mão sobre o volante; o tato sobre a pele – o último sopro de vida antes do fim.
E querer o fim não é o absurdo que dizem ser – escolher a hora do apagar das luzes é a maneira mais honrosa de se acabar. Eu dou meu próprio ponto final. É minha opção e, embora queiram me tirar o que me resta, resta o que ainda sou.
E, como que para me destruir por completo, o que ainda sou é tão podre quanto o que surgiu – o gosto amargo do sal que sinto hoje são os restos do que escarrei no passado. A lágrima que seca enquanto forço a visão, secou tempos antes num rosto qualquer.
Em pensar que os segundos eternizados em lágrimas cristalizadas não passam de mera reprodução do que se passou – e em pensar, também, que quando eu disse não ao ser humano, esqueci-me que também fazia parte desta espécie tão incomum. E que o podre e o nirvana estarão sempre em todos os lugares, e que talvez seja apenas questão de se olhar o mundo sob um prisma diferente – em pensar que o podre surgido sempre esteve presente, embora esquecido. Estava aqui.
Bastava, então, o não – mas ficou o silêncio, o que é ainda pior. O não é o mal definitivo, que, com o tempo, aprende-se a entender, mas o silêncio – o silêncio é a incerteza. É a esperança de um sim que nunca virá, e a esperança é a pior das virtudes dos homens. É a certeza de estar morrendo de uma morte inexistente.
É por isso que existe o carro e existe, também, a velocidade – e existe o álcool. É para tornar real o gosto amargo da morte inexistente. A possibilidade já é o bastante – crime é morrer do silêncio nihil da palavra não dita. (Diz-me tudo, por favor...)
Dizem-me, quando dizem, coisas que não ouço. Querem tirar-me com palavras e papelões a velocidade e a brincadeira de brincar de morrer – mas que, então, dêem-me em troca a vida.
Mas queres-me, tu, brincando em outras brincadeiras. Que se fechem, então, as cortinas, pois cansei da máscara e quero embriagar-me.